28 de julho de 2018

O Grande Romance Universal

http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-photo-big-thick-book-image12186975Ontem acordei pensando que deveríamos fazer alguma coisa para proteger a humanidade das obras de arte, pelo menos das obras literárias que eu compro nos correios, quando lá vou pagar as portagens.

Hoje, pelo contrário, despertei com a ideia fixa de que não posso defraudar a humanidade inteira, escondendo-lhe o grande romance cíclico que trago na cabeça há, pelo menos, meio século. Pensei ainda que talvez ainda tenha tempo para o completar, se trabalhar com afinco. E, mesmo que não o consiga completar, permanecerá na civilização uma obra incompleta que, por essa mesma razão, será muito mais mítica e permitirá que as criancinhas das escolas façam o exercício recorrente de tentar completá-la.

Nesta disposição de ânimo, pensei logo na tasca do Frajuca, onde me sentaria tranquilamente para escrever o meu romance. Coloquei 80 cêntimos no porta-moedas para uma bica e, um dia não são dias, uma extravagância de mais dois euros e cinquenta, para o caso de me empolgar com a escrita e tiver que comer um bolo ou um pastel de bacalhau. Ponderei também o risco de escrever um romance em público, visto que, por vezes, os autores, quando se embrenham na obra literária, esquecem onde estão e babam-se…

Cheguei, munido da minha tablete e escrevi, no topo da folha electrónica, o título: “Nunca é Tarde para Amar”. Olhei-o de um lado, do outro e de frente e vi que tinha um ar de coisa extraordinariamente original e inteligente. Fiquei muito feliz e traguei o primeiro gole. Estava insípido, ao contrário do meu título.

Como sei muito bem que o título de um texto é a última coisa a escrever, vi-me impossibilidade de escrever mais fosse o que fosse. De certo modo, fica para a humanidade a tal obra incompleta, soberba e mítica. Acho eu…

19 de julho de 2018

Na minha aldeia


Na minha aldeia

Todos os dias o sino chora.

É sempre assim, quando o verão se esconde.

Ah Velhos, ah Portugueses,

Morreis do baço e do infortúnio

A cada fim de verão.

Na minha aldeia a morte é um tanger de sino

(Carpideira de bronze, seráfica, fria…)


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Imagem daqui

9 de julho de 2018

o fim da internet e a educação para essa coisa da produção de conteúdos

Tenho lido e ouvido por aí, em vários e conceituados areópagos, mesmo aqueles que se reclamam da democracia plena, que talvez esteja próximo o fim da internet, pelo menos no paradigma em que hoje a conhecemos. Razão principal: a barafunda em que a rede se tem vindo a transformar, pelo menos a partir da última década. Os sábios sabem (por isso são sábios) definir “barafunda” melhor que eu. Portanto, vou-lhes dar a palavra: “ A Internet é o sonho de qualquer pensamento livre. E também o seu pesadelo. O relativismo reinante, declarando de igual modo todas as opiniões como sendo verdades intocáveis, por mais falhas de credibilidade que sejam e por mais que se faça displicentemente uma amálgama das verdades relativamente verdadeiras e dos seus sofismas não pode deixar de confundir os pobres leitores da rede mundial.  Este estado de coisas, acrescido da total ausência de regras e de respeito pela propriedade intelectual, pela compostura e pelo state-of-the-art do momento civilizacional que vivemos, contribuirão por certo para a desinformação, intoxicação e alienação dos povos que a ela sistematicamente recorrem .” – joao de miranda maranhão – inconformista, gandarês e sábio

Humm… Enfim, todos sabemos que a ausência de censura é uma chatice, sobretudo quando permite proliferar ideologias e comportamentos que não são os nossos. Não consigo entender por que tanta gente acha que eu estou errado, quando eu próprio (e não um qualquer) acredito estar certo.

Gosto da internet como ela é: sublime e medíocre, cortês  e destemperada, morna e agressiva, sem censura prévia nem póstuma. Gosto que ela seja uma vagabunda ao serviço de todos, mesmo daqueles que escrevem “abri-mos” e “Françês”.  Custa muito, lá isso custa, mas a nossa generosidade é imensa, laicamos tudo e só mais tarde, ao deitar, arrancamos os cabelos que ainda temos.

Outra das razões pelas quais já se vai pensando em pôr fim a isto é o descaramento com que publicamos como nossas coisas que um outro qualquer cretino inventou. Nunca referimos o autor por uma das duas razões, ou por ambas, nos casos mais renitentes: 1- Não sabemos quem foi que disse ou escreveu aquilo que achámos fabuloso, apesar de nem ter ficado perto. 2- Até sabemos quem foi (foi um tipo genial que aparece nas revistas, lutou contra qualquer coisa ou a favor de qualquer coisa), mas pode ser que os outros não saibam e aí os louros caem sobre as nossas cãs. (Hummm…)

Se a internet não consegue barrar a escrita aos medíocres, aos parvinhos e a todos os que possuem gostos duvidosos sobre música, literatura e paisagismo, compete, obviamente, a nós ensinar essas pobres criaturas a dominar os saberes e os conceitos de que nós há muito desfrutamos. Porém, devemos continuar a colocar likes em todo o lado (sobretudo nas fotografias de comida, nos vídeos de animais que gostam muito dos donos ou de outros animais, nos postais de pores do sol e naquelas tiradas do simbolismo literário que, não sei por que carga de água, voltou agora com tudo, em plena era pós-moderna. Não há paciência mas não nos esqueçamos de que justamente a paciência é a maior virtude de um ensinante).  A isso chamam os psicopedagogos reforço positivo, a mais eficaz, pacificada e incontroversa estratégia de aprendizagem. (Hummmm…)