tag:blogger.com,1999:blog-50995644436559012232024-03-13T20:57:34.394-07:00SÓ FALO DO QUE NÃO SEIuma publicação extemporânea, inadequada e inútiljoao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.comBlogger57125tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-37844373606127537032019-10-17T10:42:00.001-07:002019-10-17T10:42:30.970-07:00A vida e a Democracia<p>A VIDA não quer que mudemos nada, para que seja ela a mudar tudo. <br>A DEMOCRACIA quer que mudemos tudo, para que ela não tenha que mudar nada.</p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-65219045652230078532019-05-07T05:42:00.005-07:002019-05-07T05:42:59.625-07:00JÁ VÃO SENDO HORAS DE DIZER COISAS (4)<span style="color: green; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif;"></span><br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; color: #1c1e21; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant: normal; letter-spacing: normal; margin: 6px 0px; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<b> (A propósito da contestação da sociedade civil à luta dos professores)</b></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; color: #1c1e21; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<b></b><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; color: #1c1e21; display: block; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
Os professores vêm sendo objecto de contestação há já muitos anos, tendo-se agudizado a situação em virtude dos actuais regimes de gestão das escolas. </div>
<div class="text_exposed_show" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; color: #1c1e21; display: inline; font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: left; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px;">
Os Conselhos Gerais actuam de modo demasiado intrusivo na vida escolar. Alguns directores com ambições politiqueiras nas comunidades em que se inserem as suas escolas, optam por criar preferencialmente os seus amigos no meio envolvente em vez de virem sistematicamente em defesa do bom nome e hombridade dos seus docentes, quando estes são miseravelmente contestados e criticados por alunos ou encarregados de educação. (Destes casos concretos não tenho informações fidedignas mas, por todo o lado, nos chegam ecos desta eventualidade)</div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
Os professores acumularam também um sem número de erros por incompetência relacional e avaliativa. A avaliação dos alunos só muito recentemente se tornou mais justa, mais esclarecida e esclarecedora. As novíssimas correntes pedagógicas que incluem os comportamentos (componentes ditas não-cognitivas ou atitudes e valores) no todo avaliativo, bem como medições de competências feitas um pouco ao acaso nesta área, por ausência de uma objectividade certeira que as sustente, tornaram indecifrável para os pais o processo avaliativo dos alunos. </div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
Contestados por alunos, encarregados de educação, algumas direcções e, em muitos casos, pelos seus próprios pares, os professores desataram a produzir comportamentos um tanto ou quanto primários e imaturos. </div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
O governo de Maria de Lurdes Rodrigues terá sido a pedra de toque nesta escalada de ódio mais ou menos subliminar contra os docentes, sobretudo os do ensino médio. </div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
Alguns dos actuais encarregados de educação já contestaram e odiaram os professores, no tempo em que foram alunos, e essa antipatia transferiu-se aos rebentos, junto com o adn. </div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
Uma permanente aversão às coisas da cultura exponenciou também esse desprezo atávico pela classe docente, de um modo particularmente opressivo. </div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
A imagem (embora errónea, a meu ver) de um docente meio incompetente, laxista e preguiçoso, e que parece estar sempre mais interessado no salário do que na boa formação dos alunos, acicatou invejas, desdéns e antipatias de toda a ordem. (As imagens, sejam elas produzidas pelos próprios ou criadas por alheios, serão certamente representações virtuais, sem quaisquer ligações ao real.)</div>
<div style="font-family: Helvetica,Arial,sans-serif; margin-bottom: 6px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 6px;">
Enfim, imensas causas concorreram para este lamentável efeito.</div>
</div>
<b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike><br />joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-39179097378626295302018-12-06T09:18:00.001-08:002018-12-06T09:18:49.084-08:00Agora a sério, pelo menos uma vez, vá lá… :)<p align="justify"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-6FOxhPxZppc/XAlZ9R_NWWI/AAAAAAAAIbw/BXYkHc1fynwECfjWI1mJc8mBLd160pLZwCHMYCw/s1600-h/socialismo%255B5%255D"><img width="237" height="178" title="socialismo" align="left" style="margin: 0px 22px 12px 0px; float: left; display: inline;" alt="socialismo" src="https://lh3.googleusercontent.com/-2cdf1CJyZrs/XAlZ92dioQI/AAAAAAAAIb0/C2M9zf9gEw8KYdVmwD2mejYHncVu2754gCHMYCw/socialismo_thumb%255B3%255D?imgmax=800"></a><font color="#000000">As sociedades ocidentais compraram a bom preço todos os alegados méritos do sistema capitalista e acabaram por renegar tudo o que se aproxima dos ideais socialistas. Historicamente, é verdade que nenhuma forma de "socialismo" promoveu o bem estar das suas populações. Não temos como negar esta evidência. Todas as formas conhecidas de "socialismo" foram servidas por ditaduras e pouco fizeram pela saúde económica e moral das suas populações. Convém, no entanto, não demonizar o Socialismo, ele próprio, como sistema que se opõe (e pretende, pelo menos, atenuar) às insolúveis contradições capitalistas. Tudo porque, ao se desdenhar o Socialismo e as formas socializantes das sociedades, cairemos facilmente na perversão de destruir a própria social-democracia, a cara mais lavada do capitalismo. <img width="16" height="16" alt="" src="https://static.xx.fbcdn.net/images/emoji.php/v9/t4c/1/16/1f642.png?_nc_eui2=AeGBr7qx2qWntD751KgXLvt_xVq3Kbb0wLvYONRy1c5xPrvUZbyq_dCat6Y0QIXgofhEoD4tCTs68qPQdmez2decUoS5mvvZ7AjE87Pt-TtF4w"></font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-21065243162492810042018-11-18T09:24:00.001-08:002018-11-18T09:24:11.906-08:00UM CACHORRO PARA A CÁTEDRA DA PSICOPEDAGOGIA CONTEMPORÂNEA<p align="justify">(DEDICADO A TODOS OS JOVENS PROFESSORES RECEM ENTRADOS NO DESCONCERTO CIVILIZACIONAL CHAMADO EDUCAÇÃO)<p align="justify"><img width="221" height="181" align="left" style="margin: 0px 19px 4px 0px; border: 0px currentcolor; border-image: none; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="Ver a imagem de origem" src="https://thumbs.dreamstime.com/z/hundegleichlauf-10517578.jpg" border="0">Escutem agora a voz de um atoleimado que trabalhou com alunos durante 40 anos e nunca os compreendeu! </p><p align="justify">Parece um péssimo cartão de visita, não é? Porém não é tal. <p align="justify">Esse homem caiu no logro, como quase todos, de tentar seguir as pedagogias oficiais. Nada mais errado. Se vocês o fizerem, morrerão de tédio e de remorsos e concluirão, como ele, que errou rotundamente, devido a tanto desejo de acertar. <p align="justify">(Para a educação não há conceitos adequadas. Há conceitos educados, isso sim, mas, como tudo o que é educado, acabam sendo preteridos pelos broncos. )<p align="justify">Pesquisámos e estudámos didáticas e psicopedagogias durante séculos, reunimo-nos dos melhores e mais hábeis pensadores nessa matéria e chegámos hoje à conclusão que os alunos adoram os professores na razão directa da sua ignorância e na razão inversa da sua competência. <p align="justify">Se, de facto, queres aprender a ensinar com eficácia, arranja um cão e tenta educa-lo. Todas as estratégias que funcionarem com o patudo, funcionarão com os teus alunos. Cachorros e Alunos são em tudo semelhantes. Ambos querem que lhes dês a melhor ração, mas não vão mexer uma pata para a conseguir. <p align="justify">Mas oh inclemência! Há uma diferença intransponível entre ambos: se falhares com o cachorro, ele perdoar-te-á. O aluno nunca te perdoará, mesmo que acertes.joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-53530486639337342062018-11-14T09:00:00.001-08:002018-11-14T09:00:41.246-08:00EM DEFESA DA TRADIÇÃO TAUROMÁQUICA<p>SÓ EM CERTO SENTIDO É QUE SOU CONTRA AS TOURADAS. POR ISSO, VENHO AQUI SUGERIR ALGUMAS INOVAÇÕES, NO SENTIDO DE AS TORNAR SOCIALMENTE INTEGRÁVEIS.<p><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-d5nLsIL_5_Y/W-xUtCZp9iI/AAAAAAAAIbI/BVVlRecHTJ0G18id3UZBYpxlfYn5YxCDgCHMYCw/s1600-h/bullfighting_in_10_lessons_317495%255B5%255D"><img width="513" height="374" title="bullfighting_in_10_lessons_317495" style="display: inline; background-image: none;" alt="bullfighting_in_10_lessons_317495" src="https://lh3.googleusercontent.com/-bU0jN-YQuSI/W-xUuB6DLlI/AAAAAAAAIbM/BycjqM4pDUUgpvFfztFYqALJJe4RKyHOACHMYCw/bullfighting_in_10_lessons_317495_thumb%255B3%255D?imgmax=800" border="0"></a><p><font size="3">1. Mudar a música - o paso-doble é uma merda. </font></p><p><br><font size="3">2. Acabar com as ferroadas no touro - em vez disso, o cavaleiro aproxima-se do touro e cola-lhe um post-it no lombo. </font></p><p><br><font size="3">3. As pegas de caras devem continuar, mas deve ser abolida a rabejação (há que evitar ferir o animal no seu brio e virilidade). Se o rabejador continuar a prevaricar, deve-lhe ser atribuído castigo igual.</font></p><p><font size="3">4. Acabar com todo e qualquer sofrimento do animal (inclusive o de natureza sentimental) e privilegiar atitudes, na arena, que o façam rir e divertir-se. </font></p><p><br><font size="3">5. No final da corrida, toureiros, cavaleiros. vacas, cavalos, músicos e touros devem confraternizar amigavelmente na arena, num jantar vegan. O touro deve ir para casa à noite e receber uma pensão vitalícia em géneros (beterrabas e erva tenra) e um harém de chocas, até à sua morte por velhice. </font></p><p><font size="3">Só nestes termos aceito a permanência da tradição tauromáquica em Portugal.</font><p><font size="3">(Imagem </font><a href="https://www.toonpool.com/user/1646/files/bullfighting_in_10_lessons_317495.jpg"><font size="3">daqui</font></a><font size="3">)</font>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-16231756380827828312018-10-27T01:32:00.001-07:002018-10-27T01:32:58.061-07:00O Cadete Schweick na Revolução Encravada<p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-c0_zRErfx6g/W1DjDpk4YxI/AAAAAAAAIGQ/KzJykHs9oEgLu4kIF_qgj93dKzexCjX4gCHMYCw/s1600-h/thUIEFFNNB%255B10%255D"><img width="210" height="207" title="thUIEFFNNB" align="left" style="margin: 0px 23px 8px 0px; border: 0px currentcolor; border-image: none; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="thUIEFFNNB" src="https://lh3.googleusercontent.com/-aeC-ujGXHA8/W1DjFZoqhNI/AAAAAAAAIGU/zlizDJhphnotEky7S-BMVILLphXI3l9wACHMYCw/thUIEFFNNB_thumb%255B8%255D?imgmax=800" border="0"></a>Tinham decorrido já dois meses sobre a Revolução dos Cravos, quando Schweick foi convocado por um clarim para uma instrução noturna na Tapada. Nunca como então o Cadete Schweick se apercebera tão ruidosamente de como é lenta a mudança das instituições. Dois meses deveriam ser mais que suficientes para que a tropa já tivesse absorvido o programa das Forças Armadas, a Democracia plena, o fim da guerra, da instrução e das paradas. Tudo fazia supor que, depois daquela data amorosa, os campos de cravos ditariam todos os momentos da vida militar. As namoradas poderiam ir dormir nas casernas, haveria colchas de seda e baralhos de cartas sobre mesinhas de cabeceira em mogno. Os pratos de lata seriam substituídos por outros de porcelana finíssima, bordejados de flores, com cinco quinas no centro. O lato do vinho canforado seria agora uma taça de cristal, de pé mais alto que o tacão das beldades, por onde escorreria o deleitoso espumante nacional da Raposeira.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Às duas da madrugada estava tudo formado na parada, cantil, bornal e a velha mochila ensebada que já tinha duas comissões no ultramar e retornava sempre ao Puto, para acompanhar o próximo Asp Of Mil até às picadas de Moçambique ou da Guiné. Ombro armas ao Comandante da Companhia e o pelotão de Schweick, comandado pelo Tenente Valadino, deslizou ensonado até se perder no matagal.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Às três, Schweick já rastejava num rio de merda, algodão no nariz, a farda lodacenta, a cara maquilhada de tinta preta, granadas rebentando sobre as pontes, ouvidos a zunir, bala real sobre as cabeças, trinchando os arbustos da outra margem.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Colado ao lodo, cansado do interminável rastejar, Schweick alçou o rabo um pouco, até quase à linha do fogo e ouviu o grito rouco de um sargento miliciano “ Baixe o rabo, camarada, ou quer ser derretido com uma rajada? Parece parvo o Amélia!” Acto contínuo, um silvo quase imperceptível picou-o no cu como uma melga gigante. Outro silvo, outra picada no traseiro. Levou a mão enlameada à nádega e apalpou um líquido quente e espesso. Sangue. Cheirou a mão. Era sangue.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Logo agora que se abria um novo mundo cheio de promessas e de algumas verdades, que tinham acabado em definitivo os pesadelos que vinha sofrendo desde 61, logo agora, no início do renascimento, o Cadete de Abril, que passara a madrugada de 24 para 25 ao relento, formado num pelotão de faz-de-conta por mais de quatro horas, ali numa travessa ao Largo do Carmo, com uma G3 descarregada entre os braços pendentes, ele, um cadete de Abril, ali a fazer número, elemento de rectaguarda de uma revolução que estava a acontecer ali perto, de cuja etiologia permanecia ignorante mas que supunha coisa grande e boa, ele, anónimo para o comando operacional mas famoso para si próprio, estava ali a esvair-se em sangue, na mais estúpida e inopinada morte que um herói poderia desejar. Logo agora, uma morte ridícula, ignominiosa. Grande galo.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Continuava vivo, no entanto. Arrastou-se até uma zona mais seca e voltou a apalpar o traseiro. Hum, praticamente seco. Que diabo o teria ferido? Carregou fundo, como à procura de um calibre 9 ou algo assim. Não. Eram duas picadas superficiais, praticamente indolores, armamento desconhecido da tropa, agulhas de tricotar, alfinetes de cabeça, zarabatanas, fisgas disparando arames, dispositivo extraterrestre, quem sabe!</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">De manhã, Schweick queixou-se a um camarada. O elemento olhou o traseiro de Schweick, introduziu dois dedos nos estranhíssimos buracos e, com Schweick mais acabrunhado do que quando, 30 anos depois, foi submetido a um toque rectal, recomendou a descida à enfermaria, </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Está aqui um corpo estranho, cadete. Está perto, vou remover. Caramba, é um chumbo de uma espingarda de pressão de ar! Alguém lhe deu um tiro de Flover na instrução,”</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Dois, dois tiros!” – disse o cadete – “Com um intervalo de alguns segundos.”</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Como é que um herói de Abril, enfim, um semi-heroi de Abril, aprende a lidar com este novo item? Decerto, um tiro de HK21 seria honroso, embora um pouco mais doloroso. Um tiro de pressão de ar era insultuoso demais… </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Vou-lhe pôr aqui um pouco de álcool e um penso. Recomendo-lhe ministrar mais algum álcool por via oral, umas cachaças, por exemplo. Amanhã estará bom”. “Obrigado, doutor”.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">De facto, dia seguinte, Schweick já nem sentia sequer um leve ardor. Levantou-se e sentou-se e formou na parada e carregou a G3 e bebeu a cânfora do costume, na costumeira lata, e dormiu na sua enxerga e esqueceu os tiros, e teve o seu próprio pelotão que apresentou regularmente ao Comandante de Companhia, e esqueceu a cama de dossel com criado-mudo em mogno e esqueceu a visita da namorada ao quartel e esqueceu, sobretudo, a revolução dos cravos, para ele eternamente uma revolução encravada… </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Mas quem diabo teria ousado expedir uma chumbada de matar pardais a um cadete de Abril? Quem? </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Ah, Schweick! Ah, portugueses!</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-88010644397700376772018-07-28T08:16:00.001-07:002018-07-28T08:16:27.972-07:00O Grande Romance Universal<p align="justify"><font face="Arial" size="4"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-jiykXKrfey8/W1yIyIydqWI/AAAAAAAAISI/i9wADtJH9AEFUh1iuraDs6wXL0YHItS-QCHMYCw/s1600-h/livro-grosso%255B9%255D"><img width="179" height="224" title="http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-photo-big-thick-book-image12186975" align="left" style="margin: 0px 18px 0px 0px; border: 0px currentcolor; border-image: none; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-photo-big-thick-book-image12186975" src="https://lh3.googleusercontent.com/-HvTUtOl3doI/W1yIy84YczI/AAAAAAAAISM/QL2zxsauCrggy1WoUKfO3AqmHNqp3--jQCHMYCw/livro-grosso_thumb%255B5%255D?imgmax=800" border="0"></a>Ontem acordei pensando que deveríamos fazer alguma coisa para proteger a humanidade das obras de arte, pelo menos das obras literárias que eu compro nos correios, quando lá vou pagar as portagens.</font><p align="justify"><font face="Arial" size="4">Hoje, pelo contrário, despertei com a ideia fixa de que não posso defraudar a humanidade inteira, escondendo-lhe o grande romance cíclico que trago na cabeça há, pelo menos, meio século. Pensei ainda que talvez ainda tenha tempo para o completar, se trabalhar com afinco. E, mesmo que não o consiga completar, permanecerá na civilização uma obra incompleta que, por essa mesma razão, será muito mais mítica e permitirá que as criancinhas das escolas façam o exercício recorrente de tentar completá-la.</font><p align="justify"><font face="Arial" size="4">Nesta disposição de ânimo, pensei logo na tasca do Frajuca, onde me sentaria tranquilamente para escrever o meu romance. Coloquei 80 cêntimos no porta-moedas para uma bica e, um dia não são dias, uma extravagância de mais dois euros e cinquenta, para o caso de me empolgar com a escrita e tiver que comer um bolo ou um pastel de bacalhau. Ponderei também o risco de escrever um romance em público, visto que, por vezes, os autores, quando se embrenham na obra literária, esquecem onde estão e babam-se…</font><p align="justify"><font face="Arial" size="4">Cheguei, munido da minha tablete e escrevi, no topo da folha electrónica, o título: “Nunca é Tarde para Amar”. Olhei-o de um lado, do outro e de frente e vi que tinha um ar de coisa extraordinariamente original e inteligente. Fiquei muito feliz e traguei o primeiro gole. Estava insípido, ao contrário do meu título.</font><p align="justify"><font face="Arial" size="4">Como sei muito bem que o título de um texto é a última coisa a escrever, vi-me impossibilidade de escrever mais fosse o que fosse. De certo modo, fica para a humanidade a tal obra incompleta, soberba e mítica. Acho eu…</font>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-25830381478544275432018-07-19T12:05:00.001-07:002018-07-19T12:05:32.226-07:00Na minha aldeia<p><font size="3"><br></font><p><font size="3">Na minha aldeia</font><p><font size="3">Todos os dias o sino chora.</font><p><font size="3">É sempre assim, quando o verão se esconde.</font><p><font size="3">Ah Velhos, ah Portugueses,</font><p><font size="3">Morreis do baço e do infortúnio</font><p><font size="3">A cada fim de verão.</font><p><font size="3">Na minha aldeia a morte é um tanger de sino</font><p><font size="3">(Carpideira de bronze, seráfica, fria…)</font><p><br><p align="center"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-e1tINiIdlWY/W1Dg9xGoZVI/AAAAAAAAIFw/iRbQi9J5ZCEWneIaCkDixpns2iJKBZBkgCHMYCw/s1600-h/th%255B4%255D"><img width="335" height="224" title="th" style="display: inline; background-image: none;" alt="th" src="https://lh3.googleusercontent.com/-QBLM7CaVIPY/W1Dg-tOpFHI/AAAAAAAAIF0/1D7uXzeT4zQYfW3kRDfWiTz3-4FPDcVGACHMYCw/th_thumb%255B2%255D?imgmax=800" border="0"></a></p><p align="center"><br></p><p align="left">Imagem <a href="https://www.bing.com/images/search?view=detailV2&ccid=0RYTHnXk&id=0FD40E501518F23C198B295DBA5EBF9F08EE34F9&thid=OIP.-5wYCvGWs0pAAUt-4R84nwHaE7&mediaurl=http%3a%2f%2fwww.imagens.usp.br%2fwp-content%2fuploads%2f16082012SinoReitoriaFotoMarcosSantos008.jpg&exph=1181&expw=1772&q=sino&simid=608001517104661938&selectedIndex=8&ajaxhist=0">daqui</a></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-27657207408680784092018-07-09T12:09:00.001-07:002018-07-09T12:09:18.640-07:00o fim da internet e a educação para essa coisa da produção de conteúdos<p align="justify"><font color="#000000" face="Arial">Tenho lido e ouvido por aí, em vários e conceituados areópagos, mesmo aqueles que se reclamam da democracia plena, que talvez esteja próximo o fim da internet, pelo menos no paradigma em que hoje a conhecemos. Razão principal: a barafunda em que a rede se tem vindo a transformar, pelo menos a partir da última década. Os sábios sabem (por isso são sábios) definir “barafunda” melhor que eu. Portanto, vou-lhes dar a palavra: “ A Internet é o sonho de qualquer pensamento livre. E também o seu pesadelo. O relativismo reinante, declarando de igual modo todas as opiniões como sendo verdades intocáveis, por mais falhas de credibilidade que sejam e por mais que se faça displicentemente uma amálgama das verdades relativamente verdadeiras e dos seus sofismas não pode deixar de confundir os pobres leitores da rede mundial. Este estado de coisas, acrescido da total ausência de regras e de respeito pela propriedade intelectual, pela compostura e pelo state-of-the-art do momento civilizacional que vivemos, contribuirão por certo para a desinformação, intoxicação e alienação dos povos que a ela sistematicamente recorrem .” – joao de miranda maranhão – inconformista, gandarês e sábio</font></p><p align="justify"><font color="#000000" face="Arial">Humm… Enfim, todos sabemos que a ausência de censura é uma chatice, sobretudo quando permite proliferar ideologias e comportamentos que não são os nossos. Não consigo entender por que tanta gente acha que eu estou errado, quando eu próprio (e não um qualquer) acredito estar certo.</font></p><p align="justify"><font color="#000000" face="Arial">Gosto da internet como ela é: sublime e medíocre, cortês e destemperada, morna e agressiva, sem censura prévia nem póstuma. Gosto que ela seja uma vagabunda ao serviço de todos, mesmo daqueles que escrevem “abri-mos” e “Françês”. Custa muito, lá isso custa, mas a nossa generosidade é imensa, laicamos tudo e só mais tarde, ao deitar, arrancamos os cabelos que ainda temos.</font></p><p align="justify"><font color="#000000" face="Arial">Outra das razões pelas quais já se vai pensando em pôr fim a isto é o descaramento com que publicamos como nossas coisas que um outro qualquer cretino inventou. Nunca referimos o autor por uma das duas razões, ou por ambas, nos casos mais renitentes: 1- Não sabemos quem foi que disse ou escreveu aquilo que achámos fabuloso, apesar de nem ter ficado perto. 2- Até sabemos quem foi (foi um tipo genial que aparece nas revistas, lutou contra qualquer coisa ou a favor de qualquer coisa), mas pode ser que os outros não saibam e aí os louros caem sobre as nossas cãs. (Hummm…)</font></p><p align="justify"><font color="#000000" face="Arial">Se a internet não consegue barrar a escrita aos medíocres, aos parvinhos e a todos os que possuem gostos duvidosos sobre música, literatura e paisagismo, compete, obviamente, a nós ensinar essas pobres criaturas a dominar os saberes e os conceitos de que nós há muito desfrutamos. Porém, devemos continuar a colocar likes em todo o lado (sobretudo nas fotografias de comida, nos vídeos de animais que gostam muito dos donos ou de outros animais, nos postais de pores do sol e naquelas tiradas do simbolismo literário que, não sei por que carga de água, voltou agora com tudo, em plena era pós-moderna. Não há paciência mas não nos esqueçamos de que justamente a paciência é a maior virtude de um ensinante). A isso chamam os psicopedagogos reforço positivo, a mais eficaz, pacificada e incontroversa estratégia de aprendizagem. (Hummmm…)</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-23116440284754947642018-06-10T03:01:00.001-07:002018-06-10T03:01:16.716-07:00HOJE CHOVEU O DIA TODO<p><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-KbiYuUAFtpk/Wxz26WfLbCI/AAAAAAAAIEs/wRG7-sG9qj8xEzN1uY5wvNNwhFqoOvL7gCHMYCw/s1600-h/incendio%255B11%255D"><img width="317" height="238" title="incendio" align="left" style="margin: 0px 26px 13px 0px; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="incendio" src="https://lh3.googleusercontent.com/-aWhdt14OYHs/Wxz26-nod2I/AAAAAAAAIEw/Afwo1GLex60YswRIY6KNqyODDfO_p94yQCHMYCw/incendio_thumb%255B7%255D?imgmax=800" border="0"></a>É A ÚNICA MANEIRA DE NÃO OUVIR A SIRENE DOS BOMBEIROS.<p>Se o sol ousa brilhar por mais de uma hora, é sabido que vais ouvir o carro dos bombeiros a desactivar mais uma ignição.. Foi o que aconteceu ontem. <br>É facto que ainda não houve incêndios este ano. As condições de humidade não o têm permitido, graças aos Céus (e também aos "céus"). Porém, segundo informações fidedignas, tem havido uma média de meia centena de ignições por dia - ignições sem incêndios, o que denota a eficácia dos serviços de protecção. Pelo contrário, os grandes incêndios sem ignição conhecida atestam a ignorância, a burrice ou a cobardia de quem acredita nessa espécie de patranhas.. <br>Há, certamente, incêndios que possam ser desencadeados sem a intervenção da mão humana. Esses são, naturalmente, de origem divina...<p>Alguém ouviu alguma entidade ligada ao poder afirmar peremptoriamente que se trata de fogo criminoso e de que vai mover mundos e fundos para enquadrar judicialmente os seus autores? Claro que não. Porque os grandes incêndios do ano passado, sem ignição, foram ateados por Deus. Ou por uma faíscota qualquer atirada lá de cima por Ele.<p>Não se preocupem com os incendiários de todos os matizes. Eles hão-de cozer um dia em banho-maria. Entretanto, gastem o que têm e o que não têm a limpar florestas e a pagar multas...joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-52664030616766656002018-05-14T01:52:00.001-07:002018-05-14T01:52:01.566-07:00Mais uma imodesta contribuição para a pedodemagogia institucional<p>Há mais ou menos três anos comprei um relógio de parede numa loja de chineses, desses que custavam trezentos paus e agora custam 10 euros. Não sei bem se foi ter estranhado a mudança, se a diferença climática o perturbou, o certo é que o relógio apenas trabalhou uma semana. Na assunção de que dar horas é um dos trabalhos mais monótonos que se possam ter, e lançando mão dos meus conhecimentos de pedodemagogia, já que há longos anos me interesso por esta matéria, resolvi traçar uma estratégia motivadora, partindo da hipótese mais que possível de se tratar de um simples caso de preguiça. </p><p>Nesta conjuntura (“conjuntura” ainda não caiu em desuso? É que nunca mais a ouvi por aí…), abri-o com carinho, soprei-lhe ar morno, sequei-o com um pano macio, falei-lhe ao ouvido, prometi-lhe um telefone esperto, lembrei-lhe docemente a importância social da sua nobre missão, inseri nele um sopro de vontade e as mais caras pilhas do mercado. NADA. O tipo manteve-se calado e quieto por três anos, tempo suficiente para qualquer relógio chinês tirar uma licenciatura em cachaças com mestrado incluído e diploma de pendurar.</p><p>Ontem olhei, prostrado, para o meu falhanço pedagógico, assim <strike>personalizado </strike>objectificado naquele relógio e veio-me à ideia mudar de estratégia, afivelando uma atitude mais assertiva e musculada, a fim de rendibilizar os meus 10 euros e produzir um breakthrough sem precedentes na área da pedodemagogia oficial: dei-lhe dois tabefes e três piparotes (tudo científico, é claro). O gajo começou a trabalhar e nem precisei de lhe mudar a pilha. Trabalha há 24 horas e sem cansaço visível. Com isto, acabei de inventar uma outra ciência que espero venha a ser utilizada amiúde no futuro e não só em relógios chineses… A palavra é: PEDAGOGIA. Conheciam? Claro que não.</p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-40343702462432595892018-04-14T13:55:00.001-07:002018-07-19T12:14:31.130-07:00O Cadete Schweick na Revolução Encravada<p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-c0_zRErfx6g/W1DjDpk4YxI/AAAAAAAAIGQ/KzJykHs9oEgLu4kIF_qgj93dKzexCjX4gCHMYCw/s1600-h/thUIEFFNNB%255B10%255D"><img width="210" height="207" title="thUIEFFNNB" align="left" style="margin: 0px 23px 8px 0px; border: 0px currentcolor; border-image: none; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="thUIEFFNNB" src="https://lh3.googleusercontent.com/-aeC-ujGXHA8/W1DjFZoqhNI/AAAAAAAAIGU/zlizDJhphnotEky7S-BMVILLphXI3l9wACHMYCw/thUIEFFNNB_thumb%255B8%255D?imgmax=800" border="0"></a>Tinham decorrido já dois meses sobre a Revolução dos Cravos, quando Schweick foi convocado por um clarim para uma instrução noturna na Tapada. Nunca como então o Cadete Schweick se apercebera tão ruidosamente de como é lenta a mudança das instituições. Dois meses deveriam ser mais que suficientes para que a tropa já tivesse absorvido o programa das Forças Armadas, a Democracia plena, o fim da guerra, da instrução e das paradas. Tudo fazia supor que, depois daquela data amorosa, os campos de cravos ditariam todos os momentos da vida militar. As namoradas poderiam ir dormir nas casernas, haveria colchas de seda e baralhos de cartas sobre mesinhas de cabeceira em mogno. Os pratos de lata seriam substituídos por outros de porcelana finíssima, bordejados de flores, com cinco quinas no centro. O lato do vinho canforado seria agora uma taça de cristal, de pé mais alto que o tacão das beldades, por onde escorreria o deleitoso espumante nacional da Raposeira.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Às duas da madrugada estava tudo formado na parada, cantil, bornal e a velha mochila ensebada que já tinha duas comissões no ultramar e retornava sempre ao Puto, para acompanhar o próximo Asp Of Mil até às picadas de Moçambique ou da Guiné. Ombro armas ao Comandante da Companhia e o pelotão de Schweick, comandado pelo Tenente Valadino, deslizou ensonado até se perder no matagal.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Às três, Schweick já rastejava num rio de merda, algodão no nariz, a farda lodacenta, a cara maquilhada de tinta preta, granadas rebentando sobre as pontes, ouvidos a zunir, bala real sobre as cabeças, trinchando os arbustos da outra margem.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Colado ao lodo, cansado do interminável rastejar, Schweick alçou o rabo um pouco, até quase à linha do fogo e ouviu o grito rouco de um sargento miliciano “ Baixe o rabo, camarada, ou quer ser derretido com uma rajada? Parece parvo o Amélia!” Acto contínuo, um silvo quase imperceptível picou-o no cu como uma melga gigante. Outro silvo, outra picada no traseiro. Levou a mão enlameada à nádega e apalpou um líquido quente e espesso. Sangue. Cheirou a mão. Era sangue.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Logo agora que se abria um novo mundo cheio de promessas e de algumas verdades, que tinham acabado em definitivo os pesadelos que vinha sofrendo desde 61. Logo agora, no início do renascimento, o Cadete de Abril, que passara a madrugada de 24 para 25 ao relento, formado num pelotão de faz-de-conta por mais de quatro horas, ali numa travessa ao Largo do Carmo, com uma G3 descarregada entre os braços pendentes, ele, um cadete de Abril, ali a fazer número, elemento de rectaguarda de uma revolução que estava a acontecer ali perto, de cuja etiologia permanecia ignorante mas que supunha coisa grande e boa, ele, anónimo para o comando operacional mas famoso para si próprio, estava ali a esvair-se em sangue, na mais estúpida e inopinada morte que um herói poderia desejar. Grande galo.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Continuava vivo, no entanto. Arrastou-se até uma zona mais seca e voltou a apalpar o traseiro. Hum, praticamente seco. Que diabo o teria ferido? Carregou fundo, como à procura de um calibre 9 ou algo assim. Não. Eram duas picadas superficiais, praticamente indolores, armamento desconhecido da tropa, agulhas de tricotar, alfinetes de cabeça, zarabatanas, fisgas disparando arames, dispositivo extraterrestre, quem sabe!</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">De manhã, Schweick queixou-se a um camarada. O elemento olhou o traseiro de Schweick, introduziu dois dedos nos estranhíssimos buracos e, com Schweick mais acabrunhado do que quando, 30 anos depois, foi submetido a um toque rectal, recomendou a descida à enfermaria, </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Está aqui um corpo estranho, cadete. Está perto, vou remover. Caramba, é um chumbo de uma espingarda de pressão de ar! Alguém lhe deu um tiro de Flover na instrução,”</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Dois, dois tiros!” – disse o cadete – “Com um intervalo de alguns segundos.”</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Como é que um herói de Abril, enfim, um semi-heroi de Abril, aprende a lidar com este novo item? Decerto, um tiro de HK21 seria honroso, embora um pouco mais doloroso. Um tiro de pressão de ar era demais. </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">“Vou-lhe pôr aqui um pouco de álcool e um penso. Recomendo-lhe ministrar mais algum álcool por via oral, umas cachaças, por exemplo. Amanhã estará bom”. “Obrigado, doutor”.</font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">De facto, dia seguinte, Schweick já nem sentia sequer um leve ardor. Levantou-se e sentou-se e formou na parada e carregou a G3 e bebeu a cânfora do costume, na costumeira lata, e dormiu na sua enxerga e esqueceu os tiros, e teve o seu próprio pelotão que apresentou regularmente ao Comandante de Companhia, e esqueceu a cama de dossel com criado-mudo em mogno e esqueceu a visita da namorada ao quartel e esqueceu, sobretudo, a revolução dos cravos, para ele eternamente uma revolução encravada… </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Mas quem diabo teria ousado expedir uma chumbada de matar pardais a um cadete de Abril? Quem? </font><p align="justify"><font color="#000000" face="Century Gothic" size="3">Ah, Schweick! Ah, portugueses!</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-51177432185441810112018-04-14T01:47:00.001-07:002018-04-14T02:40:23.775-07:00Autodeterminação de género ou autodeterminação de sexo?<p align="justify"><font color="#333333" size="4"><img width="237" height="169" title="genero" align="left" style="margin: 0px 23px 0px 0px; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="genero" src="https://lh3.googleusercontent.com/-qbmWP0IxScY/WtHAERA4O6I/AAAAAAAAIC0/zMvAZaKvssMNoKGR1XdRk9JT_9YcA57dQCHMYCw/genero_thumb%255B4%255D?imgmax=800" border="0"><font size="3">Sã</font><font color="#333333"><font color="#333333" size="3">o situações ligeiramente diferentes. Para mim, a primeira é simples e incontestada. Se um indivíduo me diz que é um homem, eu falo-lhe do próximo jogo do Sporting. Se me diz que é mulher, eu ponho-me a contabilizar as hipóteses que tenho com ela. (Normalmente são diminutas, mas a culpa nunca foi minha...)<br>Quanto ao género, cada ser vivo é que sabe de que género é e quando ou quanto seria confortável mudar.<br>Já em relação aos seres não vivos, vai continuar a haver a terrível discriminação de género. Estes seres não têm uma lei que lhes acuda e não experienciarão nunca a graça de poder alterar os seus géneros a partir dos 15 anos de idade. Uma cadeira será sempre feminina ainda que já vá nos trinta e tal anos de idade, como por exemplo esta onde me sento. <br>No plano pessoal e meramente egocentrista, prefiro, de longe, estar sentado sobre um ser inerte que declaradamente pertença ao género feminino. Em relação aos seres vivos e humanos só assumo a velha e consuetudinária relação com o género feminino, embora, nestes casos e ao contrário da minha opção pela cadeira, a opção pela mulher não passe nunca por me sentar sobre ela. Será falta de imaginação? Inexperiência? Inépcia?<br>A autodeterminação de sexo é muito complicada e difícil de entender pelo meu cérebro masculino, limitadíssimo como todos os cérebros masculinos. Não vejo como um homem possa decepar os seus apetrechos, cavar uma fenda, muni-la de um aprazível túnel e fazê-lo desaguar** num útero. E como pode, de um modo autodeterminado, uma mulher tapar aquele adorável fosso, atarraxar uma inestética sacola, presa a uma inestética tubagem de vinte centímetros, cujos donos sofrem horrores na tentativa de a esconder ou, pelo menos, dissimular?!<br>Acredito que um dia os ínfimos cérebros masculinos possam descobrir a facilidade extrema desta mutação. Mas amanhã não será a véspera desse dia...</font></font></font></p><p align="justify"><font color="#333333" size="3">(Disclaimer: Não tenho nada a ver com o que acabaram de ler. Foi culpa do meu amigo Alter-ego, o vinho.)</font><p align="justify"><font color="#333333" size="3">** Só num cérebro masculino é que túneis desaguam...</font>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-19751649188901075422017-10-09T12:08:00.001-07:002017-10-09T12:08:07.060-07:00GRAMÁTICA E AMIGOS – Uma treta de serviço (púbico) público<p><font face="Arial" size="3"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-Ph5bSGqxRLQ/WdvJFNqho-I/AAAAAAAAH_g/alOh6Z1wDu8xf7ULI9fPUPh5aA-jJIzTACHMYCw/s1600-h/gramatica%255B8%255D"><img width="246" height="246" title="gramatica" align="left" style="margin: 0px 23px 27px 0px; border-image: none; float: left; display: inline; background-image: none;" alt="gramatica" src="https://lh3.googleusercontent.com/-Phy9lu4gpEs/WdvJFrjjh9I/AAAAAAAAH_k/_295M5-XXD4LriB8yRqLlCXoIj6HqHpCACHMYCw/gramatica_thumb%255B6%255D?imgmax=800" border="0"></a>Tenho muitos amigos. Alguns são muito gerundivos como o Fernando, o Laurindo, o Orlando e o Sarabando. Outros têm nome de Particípio Passado: o Solnado, a Ada, o Caiado, o Calado (que é o melhor), o Furtado, a Benvinda e o Margarido. Tenho amigos prefixados, sobretudo com o Prefixo de Repetição, o Renato (que nasceu duas vezes), a Regina (que tem duas vaginas) e o Rem...édios (que tem dois, mas não muito grandes). O Adérito, aderiu a alguma coisa e nunca mais conseguiu descolar. Tenho dois amigos Pretéritos Perfeitos: o Amadeu e o Caim (primeira pessoa do Pretérito Perfeito de “cair”, lá na minha terra). O meu amigo Jeremias é um Pretérito Imperfeito, segunda pessoa do singular, mas muito Indicativo. Tenho amigos aumentativos como o Antão, o Brandão, o Gusmão e o Sebastião. Amigos na Primeira Pessoa (o Eurico, o Euclides, o Eusébio e o Eugénio). Tenho ainda amigos Superlativos (o Veríssimo e o Máximo) e o Guterres, que é um Presente do Conjuntivo da Segunda Pessoa do Singular do verbo Guterrar (do alemão errar bem). Chamo-me João Miranda Maranhao, sou aumentativo no princípio (cabeçudo) e sou aumentativo no fim (tenho os pés grandes). Mas, no meio (um Gerúndio e, ainda por cima, no Feminino), nada faria supor, pois não? Bem, publicidade enganosa... ou excesso de <em>low profile</em>…</font>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-65835224282586452292017-08-14T08:59:00.001-07:002017-08-14T08:59:30.104-07:00a família quer-se na praia...<p> <p align="justify"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-RoR26JHFpAQ/WZHI30kiUyI/AAAAAAAAH-A/IQDn_nPvhcozOnH9T9ssssvfkSbFpEqhACHMYCw/s1600-h/welcome-to-the-beach_23-2147513515%255B6%255D"><font color="#004080"><img title="welcome-to-the-beach_23-2147513515" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin: 0px 30px 16px 0px; display: inline; padding-right: 0px; border-top-width: 0px" border="0" alt="welcome-to-the-beach_23-2147513515" src="https://lh3.googleusercontent.com/-bl4fYXk8B6Y/WZHI4bkZnMI/AAAAAAAAH-E/jN5zn7caGuAJCvzCj_sy-DcpOGdNMLf7gCHMYCw/welcome-to-the-beach_23-2147513515_thumb%255B4%255D?imgmax=800" width="246" align="left" height="246"></font></a><font color="#004080" face="Arial">- hoje vamos à praia – disse o senhor afonso, marido de dona Lurdes e pai assim assim de duas enormes raparigas de 17 e 19 anos, bem alimentadas a iogurte e pizzas, setenta e dois e setenta e oito quilos respectivamente, excluindo os telemóveis e os adidas. </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" face="Arial">dona Lurdes, esposa e mãe daqueles três, a única a cujo nome honrado me apetece dar letra maiúscula, disse, com um sorriso de poucos dentes mas, ainda assim, luminoso, que era uma óptima ideia, que ia arrumar a cozinha, lavar os tachos, guardar os restos, levar o lixo, fazer o farnel, e já se juntava a eles. </font> <p align="justify"><font color="#004080" face="Arial">o senhor afonso derramou-se no sofá, apoderou-se do comando e ficou a tagarelar com as filhas, ambas estiradas no sofá grande, pose um pouco virilizada pela gordura e pela civilização.</font> <p align="justify"><font color="#004080" face="Arial">dona Lurdes ouvia-os rir alvarmente e supôs-se a mais feliz das mulheres. raspou tachos, abriu e fechou a torneira uma trintena de vezes, esfregou o chão e, de repente, deixou de os ouvir. a sala estava em silêncio, supô-los adormecidos e temeu levemente pela sua tarde na praia. mas ainda lhe faltava passar o pano na bancada, deixar tudo perfeito. quando, finalmente, terminou, dirigiu-se à sala a informar que estava pronta. a sala estava vazia. tinham ido sem ela.</font> <p align="justify"><font color="#004080" face="Arial">à noite, pediram-lhe desculpa, mas acrescentaram que o tempo não tinha estado nada bom lá, muito vento, bandeira vermelha, impossível sequer molhar os pés e, além disso, ela também não gostava lá muito de praia. dona Lurdes concordou. de facto não era grande fã... mas enfim, sempre seria uma reunião de família. paciência, ficaria para outra vez, e lembrou-se de que ainda lhe faltava esvaziar e limpar o frigorífico por dentro...</font> <p align="justify"><font color="#004080" face="Arial">as duas filhinhas nunca tiraram os olhos dos respectivos telemóveis – a atitude mais feminina que ousaram ter.</font>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-41546798429497191542017-05-20T07:52:00.001-07:002017-05-20T07:52:08.848-07:00Para os que curtem Filosofia do Quotidiano Repelente<p align="justify"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-pyKxFYUXM7k/WSBYFREMeiI/AAAAAAAAH9E/KKD5KTHfgWQQfHc3EoxL15vD6tXIwVZ2gCHM/s1600-h/regando%255B7%255D"><img title="regando" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; margin: 0px 20px 0px 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="regando" src="https://lh3.googleusercontent.com/-amZeHLSmvWA/WSBYGJLHg2I/AAAAAAAAH9I/VyyeIF89wgMQ3hnHTczuvcMGSnrztuFzQCHM/regando_thumb%255B5%255D?imgmax=800" width="210" align="left" height="288"></a><font color="#004080" size="3" face="Arial">Acordei com sede e supus que as minhas árvores também a tinham. O meu quintal é longo e estreito. Há dias que não são regadas as árvores lá do fundo. Vesti-me à pressa. engoli um pacote com um líquido qualquer e preparei-me para fazer uma caminhada de 130 metros até ao fundo do quintal, sem saber se conseguiria regressar depois do hercúleo esforço. </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Reparando que o portão estava escancarado, resolvi fechar a porta que dá para o jardim e meti a chave no bolso. Comecei a percorrer os 130 metros debaixo de um sol castigador.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Enquanto apontava o jacto para um caramanchão de camélias, reparei que havia uma fuga lateral. Desapertei a ponteira para tentar resolver o problema. Então aquilo rebentou num jorro de loucos e despejou, sem misericórdia, uma centena de litros que me ensopou de água gélida da cintura para baixo. Acto contínuo, tirei as calças ensopadas e estendi-as sobre o relvado, reparando então que não trazia cuecas ou qualquer outra peça interior, seja lá o que a moda ou a cafonice chame a essas peças: boxers, trousses, slips, ceroulas, calções (o único aumentativo que diminui o tamanho das coisas, dado que as calças são sempre maiores do que os calções, devendo estes chamar-se preferencialmente calcinhas, ainda que com risco da própria virilidade). </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Enfim, estava nu ali em baixo! Isso era a terrível realidade. Estava em leitão, ali no fundo de um quintal estreito, rodeado de vizinhos (e vizinhas) a regar as suas hortas, e sem saber que impressão aquela geni(t)al e inesperada aparição provocaria neles (e nelas), e encetei nova caminhada, desta vez em direcção à casa, buscando o conforto de umas calças, puxando a camisa para baixo tanto quanto a sua costura permitia e desejando que a natureza não me tivesse dotado tão bem… “Bom dia, vizinho!” “Bom dia vizinho,” etc. …</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Chegado a casa, reparei que não tinha chave. Tinha ficado no bolso das calças ensopadas. No jardim não havia trapo que me subtraísse à bondosa e caritativa saudação dos vizinhos (e vizinhas). Encetei, portanto, novo trajecto até às calças que jaziam amarfanhadas sobre a relva, a intransponíveis 130 metros de mim. “Bom dia, vizinho” Bom dia vizinho”, “Bom dia vizinho”, etc. Perguntei-me em que episódio de Mr Bean isto se teria passado e não encontrei. Era mesmo comigo, era mesmo original e dava um post. Aqui está ele. Nunca recebi tantos “bom dia vizinho” por minuto. </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">De regresso a casa, caminhando agachado como um ladrão, ouvi mais mais alguns bomdiavizinhos, mas estava triunfante, com a chave na mão… </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">No entanto, os meus três cães, que me esperavam junto à porta, olharam-me espantados e pareceu-me ver um risinho malévolo em cada um deles…</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-52396999873738279712017-05-15T07:48:00.001-07:002017-05-15T07:48:46.939-07:00Serviço Público<p align="justify"><img title="Ver imagem de origem" alt="Resultado de imagem para protetor solar cartoon" src="http://icanstyleu.com/blog/wp-content/uploads/2010/03/sunburn_cartoon.jpg"></p> <p align="justify"><font color="#595959" size="3" face="Arial">Não digo que não seja razoável e até mesmo útil as pessoas preocuparem-se com assuntos deste jaez: Que Europa vamos ter? Ressuscitamos a velha? Fabricamos uma nova? Dará para renegociar a nossa dívida? Saímos do Euro? Fechamos as lusas portas e elegemos outro ditador? </font></p> <p align="justify"><font color="#595959" size="3" face="Arial">Tudo bem, pode ser importante discutir esses assuntos. mas mais importante, muito mais, é saber se o protector solar que nos sobrou do ano passado pode ainda servir este ano. Isto sim, é assunto de inegável utilidade pública. Uma resposta cabal a esta matéria guindar-se-ia aos píncaros da mais absoluta popularidade.</font> <p align="justify"><font color="#595959" size="3" face="Arial">Ora bem, nesta conjuntura, e como tenho um espírito inegavelmente científico, embora sem nunca me afastar do pragmatismo que nos sustenta de pé, fui pesquisar o que se sabia sobre assunto tão premente. E encontrei. Alguém fez um teste a estes protectores velhos que, por serem velhos, se escrevem com "c". (É desolador! Há sempre alguém que já pensou e avançou nas soluções de problemas que só agora me afetam. Jamais tive o direito a uma primícia, fosse de que tipo fosse....) </font> <p align="justify"><font color="#595959" size="3" face="Arial">Portanto, já sabe: se, no próximo verão quiser usar o resto do protector solar deste verão, não se esqueça de comprar um bom protetor solar para o protetor solar.<br>Serviço público é isto. Estou aqui estou a deitar búzios...</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-86508365116976820262017-05-13T02:38:00.001-07:002017-05-13T02:38:12.200-07:00Sobe a minha admiração por Donald Trump<p align="justify"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-qNIN7j-vlwo/WRbUAY5OiTI/AAAAAAAAH8g/JjIWJzhgXakhYpJ2oNI1uaEZ8iIS3ipVQCHM/s1600-h/trumpFree_033"><img title="trumpFree_03" style="float: left; margin: 0px 21px 14px 0px; display: inline" alt="trumpFree_03" src="https://lh3.googleusercontent.com/-mlI2NNAsP_o/WRbUA83lAMI/AAAAAAAAH8k/nnGgxMtLrasuvbsf3Ip2TNYzTBi9dS09wCHM/trumpFree_03_thumb1?imgmax=800" width="240" align="left" height="181"></a></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Sobe um ponto, mas sobe. Subiu de zero para um, seja lá que escala estou a usar. Donald Trump veio dizer recentemente que o exercício físico faz mal à saúde. Totalmente de acordo. Nada que eu já não tivesse comprovado há anos, perante a chacota colectiva. Há anos que eu venho avisando que as vísceras não foram feitas pare serem abanadas. Nunca foi provado que a ausência de exercício físico nos engorde e muito menos que nos mate. O Fernando Mendes está vivo, já tinham reparado? E se ele sofresse de alguma doença não poderia ficar anos a fazer aquele programa televisivo sem sequer uma caganeira…</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Mas Trump vai mais longe: “o desporto é uma perda de tempo”. É por isso que Donald está riquíssimo. Enquanto uns estavam a suar num ginásio, ele suava a vender charutos como muambeiro na Big Apple. O seu tio, o Patinhas, nunca andava mais que alguns metros a pé e poucos quilómetros de automóvel, apesar de a razão não ser do domínio da saúde mas da economia, visto que solas e pneus são caros.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Eu nunca entrei num ginásio a não ser para espreitar as miúdas a suar. E sempre considerei que mal empregado era aquele suor, caramba… </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Acontece que as pessoas comem demais. Gastam balúrdios em comida, desequilibram a nossa frágil balança de pagamentos, engordam demais e voltam a gastar balúrdios para desengordar. Em vez do ginásio, sugiro uma enxada e uma horta: batatas, feijão da atrepa, tomates, cebolas pepinos e pimentos. Mistura-se tudo com água e vai a lume brando… </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">Donald ainda estabelece um inaudito símile entre o corpo humano e uma bateria de telelé. Trazem ambos um número limitado de carregamentos. Quanto mais puxares por eles mais depressa se finam.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial">A verdadeira sabedoria não está nos médicos. Está nas pessoas que conseguem enriquecer sem fazer barulho e virar presidentes sem chacoalhar a tripa. Ainda que a competência psíquica seja diminuta, como parece ser o caso…</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-78380584658337072182017-04-12T13:06:00.001-07:002017-04-12T13:06:26.118-07:00Porky’s?<p align="left"><img title="Ver imagem de origem" style="float: left; margin: 0px 29px 24px 0px; display: inline" alt="Resultado de imagem para porco" src="http://www.downloadswallpapers.com/wallpapers/2012/fevereiro/wallpaper-porco-rosa-2649.jpg" width="292" align="left" height="176"> <font color="#595959" size="3" face="Arial">Nem sequer preciso de concordar inteiramente com o que se vem dizendo a propósito da “Epopeia dos Estudantes Portugueses em Espanha”, no dizer do meu estimadíssimo amigo Tony Cravo Roxo. Num plano meramente surrealista, mil porcos num hotel seria absolutamente plausível. Entrariam em vara, claro, certamente comeriam algumas poltronas derrubariam algumas bugigangas, leriam o Animal Farm, desprestigiariam um pouco os mármores e os tapetes. Depois, retirar-se-iam sem pagar, arrotando (enfim, não fizeram o 12º ano). Não escreveriam nada nas paredes, não se queixariam às mamãs porcas. </font></p> <p align="left"><font color="#595959" size="3" face="Arial"> No plano real do momento civilizacional em que estamos (e que deveríamos estar vivendo em plenitude) 1000 alunos do secundário, com o 12º ano concluído, têm que possuir um perfil de formação que lhes permita viver entre outros homens, bem como as competências interpessoais suficientes para se divertirem sem emporcalhar as comunidades de onde emanam - a escola e a nação. </font></p> <p align="left"><font color="#595959" size="3" face="Arial">(Soou salazarento? Paciência.)</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-65262481707440183662017-03-18T09:02:00.001-07:002017-03-18T09:02:00.523-07:00Agradeçamos aos governantes<p><font size="3" face="Arial"></font> </p> <p><font color="#646b86" size="3" face="Arial"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-72k1QoHzQhc/WM1Z9WsxFlI/AAAAAAAAH6w/jTXy7bZYR74/s1600-h/cartoon-donkey-white-background-45548039%25255B7%25255D.jpg"><img title="cartoon-donkey-white-background-45548039" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; margin: 0px 27px 3px 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="cartoon-donkey-white-background-45548039" src="https://lh3.googleusercontent.com/-SkbjP1zkPd4/WM1Z972PePI/AAAAAAAAH60/odm6ywhUrX4/cartoon-donkey-white-background-45548039_thumb%25255B5%25255D.jpg?imgmax=800" width="230" align="left" height="241"></a>A morte é inevitável, mas é uma coisa um bocado chata. Já a burrice, sendo também inevitável, é, de facto, muito mais divertida. A única maneira eficaz de enfrentar a morte é ser ou estar burro. Há, pois, que emburrecer, e o mais rápido possível, pois não sabemos o dia nem a hora. Ficar burro não é assim tão difícil. Para emburrecer, basta estar vivo. Pelo contrário, ser inteligente torna as coisas bem mais difíceis porque deus, que dá o frio igual à roupa, dá os problemas iguais à inteligência. <br>Os ainestaines resolvem equações do quinto grau a dezasseis incógnitas. Os burros contam fardos de palha, ou comem-nos mesmo sem os contar, e são felizes. <br>Os governos, constituídos por gente de quociente de inteligência uns furos acima dos burros, sabem muito bem disto. E ajudam-nos, a nós, os burros, a sair da vida sem custar tanto... <br>Como é que um tipo rico e inteligente enfrenta a morte? Com um grandessíssimo cagaço: esperneia, barafusta, chora, arrepela-se todo, finca pé. E como reage à morte um pobre burro com uma reforma de meio saco de alfarroba? Ele diz-lhe comiserado: "Ok, morte, se achas que é por aí, eu vou por aí. Isto aqui também já deu o que tinha a dar. E segue-a, alapardado."<br>Agradeçamos aos governantes, aos ricos, aos argutos, aos facínoras, aos corruptos, aos chicos-espertos, e a toda a sábia fauna que nos rodeia, a capacidade de nos manter burros e pobres, pois se um camelo passa no cu da agulha, mais depressa passa um burro...</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-32857283795448439842016-11-12T04:47:00.001-08:002016-11-12T04:47:51.068-08:00Este Blogue que vos Deixo (16)<p><font color="#4f81bd" size="4" face="Arial">Uma estação meteorológica</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-5XuvpnJQiWM/WCcPdIBqtnI/AAAAAAAAH3w/HonuH7HZTKg/s1600-h/figueira_branca_1_1%25255B6%25255D.jpg"><img title="figueira_branca_1_1" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; margin: 0px 18px 4px 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="figueira_branca_1_1" src="https://lh3.googleusercontent.com/-CV1pYzGtuVg/WCcPdixGl4I/AAAAAAAAH30/UMGRhOIBy6E/figueira_branca_1_1_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" align="left" height="281"></a>Está mais que sabido que, quando os americanos dizem que vai chover, chove!! (Não, não me refiro à eleição do presidente, que este blogue a tanto não se eleva, e sim à mera e prosaica condição atmosférica). E se dizem que vai fazer frio é porque vamos tremer o queixo e queixarmo-nos disso. Os serviços de meteorologia americanos guindaram-se a uma posição de credibilidade que rejeita dúvidas.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">O mesmo não aconteceu por volta do ano de 1950, em Portugal, numa aldeia (a que, não sei por que preconceito estúpido, sempre recuso afirmar que é a minha) muito perto de Coimbra, em que dois dos seus habitantes resolveram criar um serviço meteorológico para os agricultores, na linha do verdadeiro borda d’água, mas para melhor. </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">Aquecidos por alguns marqueses que emborcaram no Sr. Henrique, traçaram logo ali a estratégia do serviço: havia uma velha figueira no quintal deste vosso amigo, suficientemente alta para lá instalar o observatório. Não foi ventilada outra alternativa. O Moisés Botico foi quem subiu. O outro, o Palhais, ficaria em baixo, a registar o que lhe era sugerido lá de cima, através da observação sistemática dos sinais dos tempos. É assim que se organizam estes e muitos outros serviços: um vê e o outro trabalha.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">“Tal dia dá chuva! Aponta Palhais”. E o Palhais pegava no lápis de carpinteiro (era a sua profissão), molhava-o na língua e escrevia então que dava xuba ou garniso, ou bentania, ou trabuada…</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">Uma figueira velha, um projecto ambicioso, três marqueses e um escorregão ditaram a sentença. Era o fim do Acompanhamento Meteorológica para os Agricultores da Região da Gândara ( o AMARGA). O Moisés veio por aí abaixo aos solavancos, amparado aqui e ali pelos figos, até se deter cá em baixo sobre um montão de agulhas e demais folhas, destinadas à cama dos porcos e das vacas da quinta. </font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">“Acho que a ideia da figueira para observatório não foi suficientemente amadurecida” – diz o Moisés, ainda torto…</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Arial Narrow">(Para que vos escrevo estas coisas? – perguntam vocês. Ora, para vos dar notícia de quão empreendedora era a minha aldeia, muito antes da moda das estrangeiradas empreendedorices de agora… )</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-64442630714165130572016-10-30T11:19:00.001-07:002016-10-30T11:19:13.146-07:00um cão em construção<p><font face="Arial"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-NS75p3GHJ4M/WBY5m5nO6kI/AAAAAAAAH24/f0kY8hJRHAk/s1600-h/cachorro%252520cesta%25255B5%25255D.png"><img title="cachorro cesta" style="border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; background-image: none; border-bottom-width: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; margin: 0px 28px 2px 0px; display: inline; padding-right: 0px; border-top-width: 0px" border="0" alt="cachorro cesta" src="https://lh3.googleusercontent.com/-Fok7l2C2MzE/WBY5oL1D-1I/AAAAAAAAH28/3HpG72NJWyw/cachorro%252520cesta_thumb%25255B3%25255D.png?imgmax=800" width="179" align="left" height="278"></a>Tinham-no adestrado bem. Ensinaram-lhe a ir ao supermercado buscar compras. De cabaz na boca fazia aquele percurso havia anos, talvez décadas. No fundo do cabaz uma nota de banco e outra escrita pela dona em caligrafia tortuosa. Na volta, um cabaz cheio de coisas boas, babadíssimas… Foram anos de dever cumprido sem esmorecimento, sem uma tentação.</font></p> <p><font face="Arial">Ontem, pelas 11 horas da manhã, viram-no, como sempre, entrar no supermercado, a sua felpuda cauda alçada de alegria e depois sair, exactamente na mesma garbosa e heroica atitude. Porém, alguns rápidos passos decorridos, o admirável cachorro lobrigou algumas cadelinhas simpáticas que o cumprimentaram cheias de dengue, ternura e charme. O velho cão largou então o cabaz sobre o passeio, convidou para o banquete três vira-latas que por ali passavam (e nunca tinham engolido uma refeição daquele requinte), foi, cheio de salamaleques, cumprimentar as donzelas e nunca mais ninguém o viu.</font></p> <p><font face="Arial">Ainda hoje ninguém sabe dizer ao certo, nem mesmo a polícia, se o admirável ancião fez aquilo por senilidade ou por rebeldia…</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-73853899805324657262016-10-01T08:52:00.001-07:002016-10-01T08:55:37.883-07:00O poder está na rua<p align="justify"><font color="#004080"><img title="Ver imagem de origem" style="float: left; margin: 1px 20px 3px 0px; display: inline" alt="Resultado de imagem para 25 de abril" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKHEljrn_dzhMkmREIEglBQYAZ1tJXz9zPQleqJzrtoFMedhzSdmeQpLg3k51O4LsphgPvVaS6ixSGGiFZWF7o4zSb6I06hA87VhPF49vZhva-TzIrNaDcY89ScsFBHfboIP-koJUfJR84/s1600/25abr74.jpg" width="264" align="left" height="201"><font size="3" face="Century Gothic">- O poder está na rua, caramba! – troava esbaforido, em 75, um reaça peçonhento lá dos lados da Trafaria. – Aquilo ali é Cuba! ou pior, é o Kremlin.</font></font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Century Gothic">- Pois que fique na rua! – volvia eu. –Se há lugar para o poder que seja a rua.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Century Gothic">Apesar dos meus perfeitos 24 anos, a rua era, para mim, a minha rua. Era o Ti Caneco, que adormecia a ver os palhaços, e se debulhava em etílicas lágrimas a ouvir <em>Que povo é este, que Povo?</em>: era o Zé da Léria que dizia apreciar, muito mais do que o humanamente sustentável, aquela sombra triangular que as mulheres carregavam por baixo dos umbigos; era a Ti Maria Moça, contadora de causos, mulher forte, viril, musculada e energética, mais macho que o Zé da Léria; era o senhor Henrique, o único que ostentava o prefixo de Sr, porque falava aos domingos, nos tablados dos protestantes e era uma espécie de secretário-geral da palavra de deus; e eram os cachopos da minha idade, dotados da dupla função de aterrorizar o sacristão, quebrando os vidros da sacristia e de se borrarem de medo da guarda nacional republicana, quando ela, inesperadamente, surgia por trás da baliza.</font></p> <p align="justify"><font color="#004080" size="3" face="Century Gothic">A rua que deveria ser empossada de todos os poderes era esta – a minha.</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-70338024750508177292016-09-11T04:23:00.001-07:002016-09-11T04:23:07.887-07:00este blogue que vos deixo<p><font color="#0080c0" size="4"><em>O primeiro jacto</em></font></p> <p><font color="#004080" size="3"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-_cA62QRv9oU/V9U5jZRt5mI/AAAAAAAAH1w/-d4B6TfIGuk/s1600-h/jato%25255B8%25255D.jpg"><img title="jato" style="float: left; margin: 0px 37px 0px 0px; display: inline" alt="jato" src="https://lh3.googleusercontent.com/-ayw-pEruLFY/V9U5jkwOTjI/AAAAAAAAH10/uonQXnoy6IM/jato_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" width="180" align="left" height="240"></a>… e, de repente, surge no anil do verão aquele risco branco. Os homens pararam a lavoura. Mulheres benzeram-se e caíram por terra. Crianças romperam numa gritaria de fim do mundo. O coroinha foi tocar o sino a rebate. </font></p> <p><font color="#004080" size="3">Era o fim do mundo, de facto. Aquele traço azul, a dividir hemisférios, não era menos que o dedo paráclito a riscar a giz qual deveria ser o lado dos justos e qual o dos pecadores. Dali foram logo a casa do velho prior que, como todos os velhos priores, estava de palito na boca e cheiro a cebola e vinho. Olhou também para o céu e lá estava ainda, agora esvaindo-se num fumo esbranquiçado, o traçado dessa nuvem longilínea tão inesperadamente presente, tão irritantemente inoportuna, cuja aparição não constava dos anais da módica sabedoria do padre nem dos registos do Pentateuco. O padre achou, de facto, melhor, fazer uma missa rápida, e entrou na capela, seguido por todos, sob as estridentes badaladas do sacristão.</font></p> <p><font color="#004080" size="3">- Cala-te aí um pouco, ó Zé, e desce daí para a palavra de Deus.</font></p> <p><font color="#004080" size="3">E foi ali, naquele arrastar de latim e de lamúrias, que todos prometeram ser pessoas melhores, deixar intacta a leira do vizinho, nunca mais cortar a água a ninguém e fazer uma peregrinação a Fátima, a pé, se aquilo não fosse o fim dos tempos e se o Criador lhes desse mais alguns anos de vida.</font></p> <p><font color="#004080" size="3">- Há-de dar, há-de dar – disse o farmacêutico que, entretanto, se aproximara a ver que coisa estranha se passava ali, aquela atabalhoada missa tão a desoras – há-de dar, senhor prior, há-de dar, porque aquilo ali no céu é, apenas e só, um avião a jacto. </font></p> <p><font color="#004080" size="3">A palavra do farmacêutico, que soara culta e científica, era também agora providencialmente santa, já que proferida e ratificada por Deus, dentro da Sua própria casa. Essas palavras aquietaram de imediato, todos os espíritos, cujos corpos, descontraídos e bem humorados agora, foram regressando às suas costumeiras actividades agrícolas.</font></p> <p><font color="#004080" size="3">- E o resto da missinha? Valha-me Deus, cos diabos! – reverberou pelos velhos caixotões do tecto a voz roufenha do abade…</font></p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099564443655901223.post-58941120700129479902016-03-28T07:12:00.001-07:002016-03-28T07:26:47.916-07:00Reforma precisa-se<p align="justify"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-JUfE1aZ7iso/Vvk7uZ1hSJI/AAAAAAAAHuA/-2iHaTHvIwk/s1600-h/reforma%25255B6%25255D.jpg"><img title="reforma" style="border-top: 0px; border-right: 0px; background-image: none; border-bottom: 0px; float: left; padding-top: 0px; padding-left: 0px; border-left: 0px; margin: 0px 34px 22px 0px; display: inline; padding-right: 0px" border="0" alt="reforma" src="https://lh3.googleusercontent.com/-6CXi-jzL5N8/Vvk7u5_9FfI/AAAAAAAAHuE/g_3mOAADdDs/reforma_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="245" align="left" height="170"></a>Não é dessa reforma que eu falo, dessa de jogar dominó e usar boné e pulôver aos losangos. Preciso mesmo de uma reforma completa, sobretudo ao nível da pintura. Minha pintura está estalada, como o meu verniz, e é difícil manter uma conversa com alguém sobre educação ou sobre política de ensino sem borrar a pintura e a escrita. Preciso de começar pelo telhado, para poder fazer tudo o que me der na telha. Tenho que me desvencilhar do fenómeno literário para poder dizer coisas sem a semiologia à perna, à espreita dos meus erros, da minha má fortuna e do meu amor à agua-ardente. </p> <p align="justify">Preciso também de um elevador novo, que vá desde aqui até lá acima, à caixa dos pirolitos, ao painel solar, para elevar as minhas baixas sensações estéreis a pensamentos elevados e luminosos. </p> <p align="justify">Estou entupido ao nível da canalização e de tudo que é bomba de líquidos. Sei que possuo todos os líquidos da boa comunicação, líquidos e fluentes fluidos, tenho até algumas consoantes líquidas, consoante os casos. Mas eles plasmaram-se, pasmaram-se, e não transvazam de maré em maré. Já tentei o cif e o sopro, mas pouco escorreu do meu sifão. </p> <p align="justify">Creio que o problema reside na instalação eléctrica, toda ela praticamente pre-diluviana. Os interruptores estão ferrugentos e preciso urgentemente de acender um sem número de lâmpadas, lanternas, focos e gambiarras por dentro do meu breu. </p> <p align="justify">(Creio que o vinho de pacote me anda a fazer mal…)</p>joao de miranda m.http://www.blogger.com/profile/07149770814820329498noreply@blogger.com2