17 de julho de 2013

chamuscação colectiva

Nenhum partido político sairá ileso da convocatória presidencial. O PSD foi, obviamente, o primeiro chamuscado, ainda pelas mãos do próprio Presidente que lhe adiou a morte anunciada, mas não lha retirou. O CDS automutilou-se, decepou um dos seus membros, só porque sim. Agora, vive à procura de um membro novo que possa ser atarrachado sem sequer ir ao hospital. O PS nunca foi coisa nenhuma e quando por momentos foi alguma coisa nunca essa coisa foi suficientemente credível fosse para o que fosse. O Não-Sei-das-Quantas Seguro anda à procura da charneira do Soares, mas não sabe em que raio de cofre a velha raposa a guardou, e, se lhe perguntar, ele já nem se lembra de que coisa isso era. (A velha raposa ainda alinha palavras de modo gramaticalmente correcto, mas essas palavras já há muito estão obsoletas. Algumas delas já significam exactamente o contrário daquilo que Soares está convencido que elas ainda significam).

E são estes os partidos do arco da governação. Nos Estados Unidos há algures uma cidade com trinta pessoas que é governada por um puto de 4 anos. Aqui temos uma cidade de 10 milhões governada por três partidos governados por três putos de 40 anos. Mas vamos agora saltar para os partidos excluídos do tal arco governativo, já que a minha intenção é mesmo demonstrar que nenhum deles sairá incólume do momento político que o presidente se lembrou de criar…

Ora bem, comecemos pelo meu partido. O meu bicéfalo partido, bicéfalo e bissexual, o que o torna necessariamente um pouco miscígeno, era, nos anos 70, um partido trotskista que se aburguesou progressivamente, se metrosexualizou infinitamente, à procura de consensos. Está queimado porque, tendo tomado uma verdadeira posição trotskista, a de não pactuar com as tricas das tróicas, esqueceu-se da economia e de nos explicar como e onde vamos arranjar dinheiro para comprar os melões. O povo, que é estúpido por natureza e não entendende onde se situa esse novo filão que gera os patacos, deixou de lhe passar cartão. O facto de nem sequer querer ir às festas dos banqueiros mundiais não poderá ser perdoado por quem não tem um tostão. Tentar puxar o PS para as suas descausas tem-se revelado um churrasco eficaz. Ah, referia-me ao BE. O mesmo se pode dizer do PCP, o partido que não mente ao povo, que tem medo de se despersonalizar se aceitar entrar no clube dos da governança. Certamente, foi o partido que mais cedo se chamuscou, mal caiu o muro, sobretudo por não ser capaz de fazer autocrítica, a autocrítica que o próprio Lenine tanto considerou. Não quis seguir pelo caminho fácil do eurocomunismo e segue agora, sombriamente, pelo caminho impossível de ninguém. Queima-se mais e mais com o seu limitadíssimo dirigente a defender, perante dez militantes, as delícias de nunca mudar.

Posto isso, que venham as eleições. Eu continuarei a desenhar caralhinhos nos boletins de voto, o meu primo continuará a ficar na cama no dia das eleições, metade dos portugueses continuará a votar PS, PSD e PP. Nas próximas eleições o PS terá uma maioria relativa, graças ao Seguro (apesar do Seguro), o PSD virá a seguir (graças ao Coelho/apesar do Coelho) e o PP do Portas , comportas ou semportas, meterá o nariz aqui ou ali, conforme a amplitude das fendas verificadas. A troica continuará por cá, declaradamente apaixonada pelo nosso clima, e adquirirá a nacionalidade portuguesa.

E Portugal, bom, Portugal tem que voltar aos navios, às conquistas e aos feitos gloriosos, ou seja, a ver navios, às conquistas  na mata de Monsanto e ao feito glorioso de conseguir vender antenas e auto-rádios aos seus próprios donos…

      Post 9             (Imagem daqui)