19 de abril de 2013

contribuições (ou impostos?) para um estudo adjacente da literatura mundial

Miguel de Unamuno esteve lá em casa ontem. Aprestei-me a servir-lhe o melhor chá que a Tetley comercializa, um que sabe a baunilha com laivos de terra batida, bouquet a frutos secos e sugestões de argila, tudo num final de boca redondo e persistente. Oh, perdão, isto é um vinho que abri hoje ao almoço e a confusão foi precipitada pelas primeiras palavras que ouvi ao Miguel, mal se alapou no menos roto dos meus três sofás Ibéria.

“Chá? Tu por acaso queres que me dê uma coisa má? Não terás por aí uma zurrapa melhor que um chá?”

“Tenho sim, há um cantonede em pacote que se revelou uma agradável surpresa. E olhe que o preço não assusta, dois euros e meio por cinco litros dele. É obra…”

“Venha de lá então esse aí, que não pode ser pior que o que tive que beber em França quando o Primo de Rivera me pôs a andar daqui. Rás parta a França. Nunca vi um país capaz de fazer ao mesmo tempo vinhos tão bons e mistelas tão galdérias. “

“De facto, Miguel, parece um fenómeno existencial. Já o Oliveira Martins detestava a zurrapa francesa e o Antero disse-me um dia que o vinho a martelo é o acordeão musette da Edith Piaf.”

“Ah o velho Antero, coitado, deve ter sido isso que o matou”

“O acordeão musette?”

“Não, o Cantonede, porra! Dá-me antes o chá Tetley…”

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1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente! Adoro os dois. A ter de escolher irei sempre para o doce néctar! ;) Marla