1 de março de 2015

Gérson

gersonGérson, do 9º ano, tirou outra positiva. Desta vez a Ciências.

- “Yesssss! Mais cinco euros”

- “Mas porquê isso, Gérson?”

- “A minha avó dá-me cinco euros por cada positiva que eu tirar.”

- “Mas então porque tiras tão poucas? “

- “É que os professores também não ajudam muito… O Setor ganha bem?”

- “Nem por isso, Gerson. A minha avó já morreu e…”

- “Quer ganhar uns trocados? O negócio é o seguinte. Por cada positiva que os profes me derem, ganham 40 por cento dos cinco euros que a minha avó desempochar. Eu fico com os outros 60 por cento.”

- “Negócio fechado” - disse o professor – e foi, no intervalo, contar aos colegas a conversa que tivera com o Gérson. Estes riram do desplante do aluno e esqueceram o incidente.

Acontece, porém, que o Gérson arrancou, na segunda ronda de testes, mais positivas do que na primeira. Na verdade, quase triplicou o seu sucesso académico, tendo feito outro tanto com o seu sucesso económico, evidentemente. Como prometido, e acossado pelo seu impoluto sentido de justiça e hombridade (e também por causa da nota em atitudes e valores), o Gérson tem vindo a apresentar-se, no início das aulas, a todos os professores que lhe deram nota positiva. Traz a cada um deles uma redondíssima moeda de dois euros, que faz rodopiar alegremente sobre a secretária.

- “Tome, é sua! E muito obrigado”

Para seu espanto, nenhum professor aceitou o pagamento contratado, facto que o Gérson atribuiu à taralhoquice dos profes, já demasiado velhos na maioria dos casos, taralhoquice essa certamente provocada pelo barulho dos corredores, pelos cortes salariais, por terem perdido o sentido do valor do dinheiro ou pela tal burocracia de que tanto se queixavam sempre e de que o Gérson não fazia ideia que coisa fosse...

O sentido de justiça e hombridade do Gérson foi momentaneamente escoriado mas logo se recompôs. Os golpes morais, nestas idades, apagam-se com alguma facilidade e Gérson, sem grandes constrangimentos, arrecadou também a comissão destinada aos docentes…

Em casa do Gérson, uma avó preocupada:

- “Oh, Gerson, vê lá não andes a estudar demais, filho. Isso pode fazer-te mal. Vá, deixa o computador e vai espairecer um pouco com os teus amigos…”