Não é dessa reforma que eu falo, dessa de jogar dominó e usar boné e pulôver aos losangos. Preciso mesmo de uma reforma completa, sobretudo ao nível da pintura. Minha pintura está estalada, como o meu verniz, e é difícil manter uma conversa com alguém sobre educação ou sobre política de ensino sem borrar a pintura e a escrita. Preciso de começar pelo telhado, para poder fazer tudo o que me der na telha. Tenho que me desvencilhar do fenómeno literário para poder dizer coisas sem a semiologia à perna, à espreita dos meus erros, da minha má fortuna e do meu amor à agua-ardente.
Preciso também de um elevador novo, que vá desde aqui até lá acima, à caixa dos pirolitos, ao painel solar, para elevar as minhas baixas sensações estéreis a pensamentos elevados e luminosos.
Estou entupido ao nível da canalização e de tudo que é bomba de líquidos. Sei que possuo todos os líquidos da boa comunicação, líquidos e fluentes fluidos, tenho até algumas consoantes líquidas, consoante os casos. Mas eles plasmaram-se, pasmaram-se, e não transvazam de maré em maré. Já tentei o cif e o sopro, mas pouco escorreu do meu sifão.
Creio que o problema reside na instalação eléctrica, toda ela praticamente pre-diluviana. Os interruptores estão ferrugentos e preciso urgentemente de acender um sem número de lâmpadas, lanternas, focos e gambiarras por dentro do meu breu.
(Creio que o vinho de pacote me anda a fazer mal…)