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Apresento-lhes hoje D. Maria Chaputa, peixeira e filósofa da segunda metade do século passado. À pergunta,
impertinentemente académica, sobre a identidade e os fins últimos do Homem neste mundo, respondia com a razoabilidade de uma pessoa profundamente conhecedora do meio marinho, de onde emergiram homem e mulher numa tarde de primavera, na infância pardacenta dos tempos.
-Atão o menino não sabe o que é um hoime? O hoime é o bicharoco que nos f***. E há os bôs e os maus.
- Como assim, D. Maria?! Quem são os bons e quem são os maus?
- Ah mê filho, os bôs são os que nos f**** a c*** e os maus são os que nos f**** os cornos.
Eis aí, na descomplicada profundidade de D. Maria Chaputa, a definição (ainda que antropologicamente limitativa) do Homem e do seu destino no universo do Seixo de Mira e aldeias vizinhas, todas bem servidas do seu fétido e arenoso peixe. De facto, os homens são apenas bicharocos, que crescem na bicharoquice a cada dia que passa e que, aligeirando o vernáculo salmoira de D. Maria, viveram e vivem perfurando vaginas e submetendo a um jugo infame de subalternia e descrédito as suas legítimas proprietárias.
D. Maria sabe tanto disso como de carapaus e de robalos e todos os seus hoimes cheiravam a vagalhões indómitos e carapaus secos. O sermão que se fez a homens e peixes foi biblicamente o mesmo. Os peixes, no entanto, aprenderam-no melhor. E ficaram no mar, onde a violência de género é manifestamente mais mitigada…
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