A equipa que, na Venezuela, move oposição sistemática à família Hugo Chávez apresentou a sua palavra de ordem revolucionária, a sua tese de candidatura: “papel higiénico para todos!”
Houve guerras do alecrim (José da Silva), da manjerona (idem), do chá (Revolução americana), do bacalhau (Islândia, século XIX), das rosas (Inglaterra, século XV); houve a revolução dos cravos (Nacinha*, 1974), a revolução branca (Irão 1963), a agrícola (Inglaterra, século XVIII), a de veludo (Checoslováquia, 1989), a dos escravos (Santo Domingo, 1791), a dos bichos (George Orwell, 1945). Obviamente, faltava-nos a revolução do papel higiénico, a provar que as revoluções e as guerras têm sempre origem na comida, na bebida, nas cores, na macieza das coisas, em perfumes (alecrim) e em odores (escravos e bichos).
Quando falei da macieza das coisas, referia-me ao veludo que espoletou uma revolução na Checoslováquia e não ao papel higiénico, causa primordial da actual revolução venezuelana. Na verdade, na Venezuela, não é tanto a qualidade que conta mas sim a quantidade, ou seja, a escassez do produto. Nicolas Maduro teve que importar 79 milhões de dólares de papel destinado à higienização anal do povo venezuelano. Foi o pretexto para a oposição sair à rua vociferando contra a ditadura de Chavez que deixou o cu do país num verdadeiro estado de humilhação fecal.
Apesar de ter sido o papel com a foto de Chávez aquele que, sabe-se lá porquê, mais rapidamente rareou no mercado, os venezuelanos acabaram por lançar mão de todo e qualquer papel que se vendesse enrolado, culminando até mesmo no uso dos Havana – um desperdício inútil, uma utilização tão imprópria quanto ineficaz, salvo seja.
E no Brasil? Qual a razão da revolução menchevique que se vive no Imperio do Sul? Futebol a mais e hospitais a menos, dizem os manifestantes, ou seja, demasiado lixo para tão pouca água, ou, se quisermos manter o simile da Venezuela, voltamos a ter demasiada matéria fecal para tão pouco papel higiénico.
Em Portugal, a revolução ainda não conseguiu emblema que se lhe ajustasse. A revolução dos cravas não me parece suficientemente interessante, até porque crava que é crava de verdade defende intransigentemente o status quo, o consuetudinário, ambiente sem o qual não consegue fazer evoluir decentemente a sua arte. O crava necessita mesmo é de estabilidade política para fazer florescer a sua divina prestidigitação. Sem estabilidade política, o crava fica de mãos atadas, desastre inominável para um carteirista que se preze…
Quanto aos cravados, na medida em que o são de modo praticamente anestésico, não chegaram ainda a ver o verdadeiro alcance da miséria que os espera. São como a rã que se deixa cozinhar pacificamente, se o calor for aplicado lenta e gradativamente à água onde, despreocupadamente, nada.
*Nacinha – diminutivo derrogatório de “Nação”
Post 7 Imagem: domínio público
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