Há mais ou menos três anos comprei um relógio de parede numa loja de chineses, desses que custavam trezentos paus e agora custam 10 euros. Não sei bem se foi ter estranhado a mudança, se a diferença climática o perturbou, o certo é que o relógio apenas trabalhou uma semana. Na assunção de que dar horas é um dos trabalhos mais monótonos que se possam ter, e lançando mão dos meus conhecimentos de pedodemagogia, já que há longos anos me interesso por esta matéria, resolvi traçar uma estratégia motivadora, partindo da hipótese mais que possível de se tratar de um simples caso de preguiça.
Nesta conjuntura (“conjuntura” ainda não caiu em desuso? É que nunca mais a ouvi por aí…), abri-o com carinho, soprei-lhe ar morno, sequei-o com um pano macio, falei-lhe ao ouvido, prometi-lhe um telefone esperto, lembrei-lhe docemente a importância social da sua nobre missão, inseri nele um sopro de vontade e as mais caras pilhas do mercado. NADA. O tipo manteve-se calado e quieto por três anos, tempo suficiente para qualquer relógio chinês tirar uma licenciatura em cachaças com mestrado incluído e diploma de pendurar.
Ontem olhei, prostrado, para o meu falhanço pedagógico, assim personalizado objectificado naquele relógio e veio-me à ideia mudar de estratégia, afivelando uma atitude mais assertiva e musculada, a fim de rendibilizar os meus 10 euros e produzir um breakthrough sem precedentes na área da pedodemagogia oficial: dei-lhe dois tabefes e três piparotes (tudo científico, é claro). O gajo começou a trabalhar e nem precisei de lhe mudar a pilha. Trabalha há 24 horas e sem cansaço visível. Com isto, acabei de inventar uma outra ciência que espero venha a ser utilizada amiúde no futuro e não só em relógios chineses… A palavra é: PEDAGOGIA. Conheciam? Claro que não.
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